Assim que der, explico para todos as razões que me impedem de trabalhar como gosto, e como vocês merecem, aqui no blog.São problemas particulares que já estão sendo solucionados. Volto logo.
No espaço do meu comentário diário, deixo com todos o artigo da jornalista Eliane Cantanhêde, publicado no Estadão de hoje.
Tenham todos um Bom Dia!
Ruptura
Eliane Cantanhêde
17
Julho 2015
Alguém achou a coisa mais natural do
mundo o PMDB reunir solenemente toda a sua cúpula só para apresentar as
novidades digitais do partido para 2016 e 2018? Pois não teve nada de natural.
Foi apenas o pretexto para uma comunicação oficial muito mais importante: o
descolamento do PT e a ruptura branca com o governo Dilma Rousseff.
Toda a linha sucessória da República
perfilou-se para o anúncio: o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da
Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. Para não deixar dúvidas
quanto ao significado e à seriedade do gesto, compareceu também o ex-presidente
José Sarney.
Temer anunciou que o PMDB terá
candidato próprio à Presidência em 2018, Renan desdenhou a aliança com o PT
como "circunstancial" e Cunha, o mais novo frasista da República,
soltou os cachorros. Para ele, a aliança "já acabou" e o casal
"está dormindo em quartos separados".
Se todas essas manifestações
ocorressem no último ano de governo e às vésperas da sucessão presidencial, ok.
Mas no primeiro semestre de mandato?! Não faz sentido (ou, ao contrário, faz
todo sentido) que justamente o vice-presidente da República comunique, a três
anos e meio do fim do mandato, que a aliança vai terminar. Significa que já
terminou, como disse Eduardo Cunha, bem mais belicoso.
Ele, aliás, completou o serviço
ontem, num café da manhã com jornalistas de diferentes mídias. Com aquele
jeitão que Deus lhe deu e que a presidência da Câmara aperfeiçoou, Cunha
declarou que o PMDB "está doido para ficar longe do PT, ninguém mais aguenta
a aliança com o PT". E sobre o governo Dilma, qual a opinião de Sua
Excelência? Conforme os relatos dos colegas, Cunha previu que o Congresso será
"ainda mais duro" depois do recesso e que o governo "não tem
maioria": "Finge ter maioria, mas essa maioria só finge que é
governo".
Cunha só não contava que a nova bomba
da Lava Jato explodiria horas depois: a revelação do lobista Julio Camargo de
que ele teria pedido US$ 5 milhões (US$ 5 milhões!!!) em propina num contrato
de navios-sonda com a Petrobrás. Tudo o que Cunha conseguiu dizer, em sua
defesa, foi que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, "obrigou o
delator a mentir". Pode uma coisa dessas? Os implicados querem fazer
picadinho de Janot, mas eles é que estão assando na panela.
E assim "la nave va", com o
governo ainda na metade do primeiro ano e Dilma já às vésperas dos julgamentos
de suas contas no TSE e no TCU, as previsões de recessão e de desemprego só
piorando e a agência Moody's com a caneta pronta para, a qualquer momento, rebaixar
a nota de investimento do Brasil. E também pairam sobre o País - e sobre o
mundo - a crise da Grécia e as incertezas quanto à China.
Desenha-se assim um cenário em que o
"aliado" PMDB se tornou o mais ameaçador adversário do PT e do
governo e discute à luz do dia o "day after" da deposição de Dilma
com ministros e ex-ministros do Supremo, líderes "aliados" ao
Planalto e próceres do PSDB. A saída não seria pelo TSE, com a possibilidade de
posse do segundo colocado em 2014 ou de novas eleições, porque ambas
desembocariam na solução Aécio Neves, mas sim via TCU, que empurraria o
imbróglio do mandato de Dilma para o Congresso, ou seja, para o colo do PMDB,
que é quem manda e desmanda na Câmara e cada vez mais no Senado.
Conclusão: quando reúne toda a cúpula
mais graduada e sela publicamente o descolamento do PT e a ruptura branca com o
governo, o PMDB está não só lançando com absurda antecedência a tese da
candidatura própria em 2018, mas sim preparando a posse já de Michel Temer. Se
é que o PMDB vai sobreviver à crise e à Lava Jato...
A posse de Temer, portanto, pode ser
uma saída política, não uma solução para duas emergências: a economia
esfarelando e a possibilidade crescente de prisões de ex-ministros e de batida
policial na residência oficial do presidente da Câmara e até na do presidente
do Senado. Mas antes das 6 da manhã, combinado?