"Yousseff acertava propina
com executivo da Odebrecht"
O carregador de malas de dinheiro do doleiro Alberto
Youssef, Rafael Ângulo Lopes, disse em depoimento à Procuradoria-Geral da
República (PGR) que o chefe discutia pagamentos de propina com o executivo da
Odebrecht Alexandrino Alencar. Preso da 14ª fase da Operação Lava Jato, Alencar
deixou a empresa na última segunda-feira - ele ocupava o cargo de diretor de
Relações Institucionais.
Companheiro de
viagem do ex-presidente Lula em empreitadas pagas pela Odebrecht ao exterior,
Alencar está na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Investigadores que
atuam na força-tarefa da Lava Jato acreditam que ele atuava como distribuidor
de vantagens ilícitas em nome da Odebrecht no escândalo do petrolão.
O depoimento de Ângulo Lopes, que concordou em fechar um
acordo de delação premiada, só foi divulgado nesta quarta-feira. "Com
certeza era um acerto de contrato de propina e de transferência de valores no
exterior", disse ele. De acordo com o relato do auxiliar do doleiro,
Youssef entregava ao executivo as contas bancárias situadas no exterior para
que os depósitos de propina fossem feitos. No depoimento, não há citação dos
destinatários do dinheiro sujo, mas Rafael Ângulo diz ter ele próprio também
levado números de contas bancárias a Alexandrino na Braskem. Depois da
transferência dos valores, os comprovantes dos depósitos de propina eram
entregues pelo próprio executivo, sendo que, "em geral", a própria
Braskem fazia as transferências internacionais.
A partir de
2011, quando Alexandrino Alencar já estava na Odebrecht, os comprovantes de
depósitos eram retirados por Ângulo Lopes na própria empreiteira. Ele disse que
ia "no mínimo" duas vezes por mês ao encontro de Alencar, que se
comunicava em "telefones exclusivos" com o doleiro Alberto Youssef,
registrados com os codinomes Primo e Barba.
Na manhã desta
terça, 23, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa também
prestou depoimento sobre Alexandrino na Polícia Federal em Curitiba e confirmou
que o executivo negociou com o doleiro Alberto Youssef e com o ex-deputado
federal José Janene (PP-PR) o pagamento de 3 a 5 milhões de dólares em propina,
entre 2006 e 2012.