Quarta-feira, véspera de feriado, sol muio lindo, dia agradável, e o braço esquerdo me impedindo de escrever meu comentário diário. Estou com saudades.
Como consigo ler tudo o que é possível, na internet, gostaria de dividir com vocês o artigo da jornalista Eliane Cantanhêde - Cascas de banana - publicado no Estadão de hoje.Leiam, curtam e desfrutem dessa quarta que amanheceu bonita.
Tenham todos um Bom Dia!
Cascas de banana
Eliane Cantanhêde
03
Junho 2015
As imagens da
presidente Dilma Rousseff andando de bicicleta, com capacete e tudo, remetem a
dois tempos. Um, mais antigo, quando o então presidente Fernando Collor
disparava por aí de moto, corria no Central Park, catava lixo na praia, essas
coisas de garotão de bem com a vida. Outro, bem atual, quando o próprio
primeiro governo Dilma recorria a “pedaladas” para encobrir a realidade fiscal
e driblar o desequilíbrio das contas.
Mas vamos olhar
com mais boa vontade as fotos de Dilma pedalando por Brasília, algo simpático,
programado para ajudar na dieta fulminante e na “humanização” da figura
presidencial. Certamente, Dilma tem todo o direito de sair de moto de vez em
quando, de curtir o domingão em cima de uma bicicleta. Afinal, presidente ou
não, ela é gente como a gente. E, com tantos problemas de todos os lados, bem
que precisa espairecer.
O que não pode é a
assessoria da presidente achar que uma simples pedalada não fiscal vai ajudar a
fechar contas políticas que não fecham. Uma bicicleta é uma bicicleta. E, assim
como o marketing até vence eleições, mas não muda a realidade, uma bicicletada
dominical não apaga o rastro de problemas que Dilma, Lula e o PT criaram para
Dilma, Lula e o PT. Nem melhora o humor dos “aliados”.
Enquanto a
presidente curtia sua bike, os presidentes do Senado, Renan Calheiros, e da
Câmara, Eduardo Cunha – sempre eles! –, já se apressavam para jogar mais cascas
de banana no caminho de Dilma. A redução da maioridade penal é,
definitivamente, uma questão da maior gravidade, mas não é um programa de
governo e não gera um confronto entre Congresso e governo, mas entre PMDB e PT.
Já a Lei de Responsabilidade das Estatais atinge diretamente o Planalto,
coração do Executivo.
Eduardo Cunha usa
a questão da maioridade penal para espicaçar o PT, já que ameaça votar logo em
junho e recorrer a consultas populares – que, infelizmente, dão ampla margem de
apoio à redução. O Planalto reage usando a questão para criar uma ponte com a oposição,
sobretudo com o PSDB, ao defender o projeto alternativo do senador Aloysio
Nunes Ferreira, que endurece as penas para crimes graves. Seria uma forma de
Dilma tirar proveito da situação para dividir a oposição: a formal, tucana, de
um lado; a real, peemedebista, de outro.
A questão central
para o governo, porém, é a do projeto das estatais que, em resumo, reduziria o
poder do Planalto para gerir e para nomear os diretores de empresas estatais e
bancos públicos, como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES e, óbvio,
a Petrobrás, apontada como símbolo, e como troféu macabro, do aparelhamento das
estatais na era PT. Maioridade penal é um tema da sociedade; gestão de empresas
e bancos públicos é um tema do interesse direto do governo – além de ser,
também, da sociedade.
Pelo projeto
articulado em conjunto por Renan e Cunha, os dirigentes dessas instituições
terão de passar por sabatinas no Senado, como já ocorre com ministros do
Supremo Tribunal Federal, diretores das agências reguladoras e embaixadores do
Brasil no exterior. Não custa destacar o enorme senso de oportunidade dos dois peemedebistas, que lançam a ideia algumas semanas após a aprovação a toque de
caixa da Lei da Bengala, que retirou de Dilma a prerrogativa de indicar cinco
ministros do Supremo, e apenas alguns dias depois de os senadores vetarem o
embaixador indicado por Dilma para a OEA, Guilherme Patriota. Se eliminou
Patriota, quantos presidentes de BB, CEF, Petrobrás... o Senado poderá
eliminar?
Assim, a
presidente passa a ideia de estar feliz e seus assessores apostam que o pior da
crise já passou, mas isso pode ser mais um típico autoengano de quem ocupa o
poder. Se depender de Renan e de Cunha, logo do PMDB, logo do Congresso, a
crise continua. Nem o escândalo da CBF pode camuflar essa realidade, quanto
mais uma mera bicicleta.