Novo ministro da
Fazenda tem missão de restaurar credibilidade da economia
DEUTSCHE
WELLE
Workaholic, com fama de durão e vasta
experiência na área fiscal, Joaquim Levy é escolha acertada, dizem analistas.
Mas há dúvidas se Dilma dará à nova equipe econômica espaço para tomar medidas
consideradas drásticas.
A presidente Dilma Rousseff apresentou nesta quinta-feira (27/11) sua nova equipe econômica, com Joaquim Levy como ministro da Fazenda. O ex-diretor do Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro no primeiro mandato de Lula será o homem forte do governo federal. Ele vai substituir Guido Mantega, o qual Dilma já havia indicado durante a campanha eleitoral que não manteria no cargo.
A presidente Dilma Rousseff apresentou nesta quinta-feira (27/11) sua nova equipe econômica, com Joaquim Levy como ministro da Fazenda. O ex-diretor do Bradesco Asset Management e ex-secretário do Tesouro no primeiro mandato de Lula será o homem forte do governo federal. Ele vai substituir Guido Mantega, o qual Dilma já havia indicado durante a campanha eleitoral que não manteria no cargo.
Especialistas ouvidos pela DW Brasil
dizem que a presidente acertou ao escolher Levy para a pasta e que ele deverá
dar uma guinada de 180 graus na política econômica do país. Porém, ainda há
dúvidas se Dilma dará à nova equipe econômica incluindo aí o novo ministro do
Planejamento, Nelson Barbosa; e o presidente do Banco Central, Alexandre
Tombini, que segue no cargo espaço para atuar e tomar as medidas necessárias.
Os principais desafios de Levy
incluem restaurar a credibilidade da economia para receber investimentos
estrangeiros; não fazer com que o Brasil perca o grau de investimento de
agências de classificação de risco; e investir em obras de infraestrutura para
estimular a economia, apesar do escândalo da Petrobras. Além disso, ele deve
tentar segurar o crédito disponibilizado por bancos públicos, já que o
orçamento nacional está apertado.
Para alcançar esses objetivos, Levy
deverá colocar em prática uma política fiscal mais dura e ortodoxa que a de
Mantega. Entre as medidas que podem ser anunciadas até o início de 2015 estão o
corte dos gastos públicos, a restauração da meta de superávit primário
(economia para o pagamento dos juros da dívida pública), compromisso com a meta
de inflação; e o fim da chamada contabilidade criativa (uso de truques
contábeis para despistar problemas nas contas do governo).
"Levy é muito qualificado e tem
farta experiência na área pública. Não há ninguém que seja mais qualificado que
ele para embutir confiança nas contas brasileiras e na política fazendária do
Brasil", diz Antônio Carlos Porto Gonçalves, professor de economia da FGV.
"Mas, dos três grandes problemas do governo, Levy resolve somente um, que
é na área das contas públicas."
Porto Gonçalves, que foi professor de
Levy durante a pós-graduação, diz, porém, que ainda há questões que estão fora
da alçada do novo ministro da Fazenda: a intervenção do governo na área
energética e a corrupção em grande escala. "A escolha por ele está na
direção certa, mas não é suficiente. O investidor não vai querer colocar
dinheiro no país se há potencial de crise energética e política, mesmo que as
contas estejam arrumadas", opina.
Agrado ao mercado
Inicialmente, Dilma havia convidado o
presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, para ser o novo titular da pasta.
Trabuco não aceitou o convite por ter compromissos com o banco. A escolha de
Levy independente, workaholic e com fama de durão, e com vasta experiência na
área fiscal acalma o mercado financeiro, já que o ponto negativo dos primeiros
quatro anos de Dilma foi a política fiscal.
"A escolha por Levy é uma
reviravolta de 180 graus, já que ele terá que assumir uma postura de
austeridade fiscal", afirma José Matias-Pereira, professor de
administração pública da UnB. "Levy já mostrou que tem condições de fazer
isso pela experiência que acumulou em sua vida pública e no mercado financeiro.
Mas Dilma terá que dar espaço e apoio para ele colocar a economia de volta nos
trilhos."
A decisão é acertada do ponto de
vista macroeconômico, já que, nos últimos anos, dentro do capitalismo de
Estado, aumentaram-se os gastos públicos e gerou-se inflação, avalia José
Niemeyer, professor de relações internacionais do Ibmec/RJ. Para ele, agradar o
mercado pode desagradar o cidadão comum, que teve aumento real no salário
mínimo e crédito fácil para comprar bens duráveis.
"Se ela fizer uma política
fiscal mais para o mercado e conservadora, pode fazer com que o PT perca
eleitores em 2018", opina Niemeyer. "Levy representa mais os
interesses do mercado e de alguns empresários específicos contra empresários de
setores, como o sucroalcooleiro, que estão em crescimento e dependem de
empréstimos mais baratos de bancos públicos como o BNDES".
Assim que vazou, na última
sexta-feira, a informação de que Levy se tornaria ministro da Fazenda, uma ala
do PT já começou a atingi-lo com "fogo amigo". Alguns membros do
partido se queixam de que Levy não tem filiação partidária.
Além disso, desagrada o fato dele ser
liberal e ligado ao PSDB e a Armínio Fraga, que seria o ministro da Fazenda
caso Aécio Neves fosse eleito presidente. O novo titular da pasta também foi
secretário da Fazenda do Rio de Janeiro, entre 2007 e 2010, e já passou pelo
Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Central Europeu (BCE).