segunda-feira, 3 de novembro de 2014

OPINIÃO

O espírito da coisa
O ESTADO DE S.PAULO
03 Novembro 2014 

A natureza dos chamados "conselhos participativos" salta aos olhos quando se lê o decreto da presidente Dilma Rousseff que criou o Sistema Nacional de Participação Social e a Política Nacional de Participação Social. De nada adianta os petistas apelarem a sofismas os mais diversos - a começar por aquele que diz que tais conselhos já existem e que precisam apenas ser regulamentados -, pois o que se propõe, no texto, compromete o próprio sistema de governo, submetendo-o permanentemente a representantes da "sociedade civil" que nada mais são do que militantes profissionais.

Se alguém ainda tem alguma dúvida sobre qual é o espírito desse atentado à ordem constitucional, convém ler a entrevista dada ao Estado por um ex-integrante do Conselho Nacional de Saúde. Ele testemunha o aparelhamento desse conselho e comprova seu desvio de finalidade - em vez de servir como órgão consultivo para a formulação de políticas públicas, transformou-se em correia de transmissão de interesses partidários.

"Os interesses da população não estão devidamente representados", disse o ex-conselheiro Mário Scheffer, professor do Departamento de Medicina Preventiva da USP. Dizendo-se favorável à "ampliação dos espaços de participação da sociedade", Scheffer afirmou, no entanto, que o governo deveria estar mais preocupado hoje em corrigir as distorções dos atuais conselhos antes de criar novos.
Segundo Scheffer, muitos desses espaços, em particular na área de saúde, que ele diz conhecer bem, "são hoje ocupados por pessoas cooptadas pelo governo ou por partidos e corporações". No caso do Conselho Nacional de Saúde, afirmou o professor, "houve um encurralamento e um aparelhamento dos espaços".

Como resultado disso, o conselho "não tem assumido seu papel de controle social das políticas públicas", como salientou Scheffer, pois ele está tomado por "pessoas com compromissos partidários ou atreladas ao governo". Na época em que não funcionava "a reboque do ministro ou do gestor de plantão", disse ele, o conselho "fazia uma enorme diferença", pois, em sua visão, tinha independência para avaliar leis importantes como a dos genéricos e a dos planos de saúde.
Hoje, no entanto, o quadro mudou de forma drástica. Scheffer dá como exemplo o programa de combate à aids - que, segundo ele, só se tornou um grande sucesso "porque houve uma grande participação da sociedade civil, por meio do conselho". Agora, o programa "nunca esteve tão ruim".

O decreto de Dilma diz que a intenção é "fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública federal e a sociedade civil", mas o que se observa, na prática, é que se trata de uma tentativa de institucionalizar de vez o aparelhamento que já vigora nos conselhos.

Não custa lembrar que o texto do decreto estabelece que a tal "sociedade civil" é composta de "cidadãos" e também - e aqui está o pulo do gato - "coletivos, movimentos sociais institucionalizados ou não institucionalizados, suas redes e suas organizações". Ou seja, o "cidadão" - isto é, aquele que não é militante político e tem de trabalhar para pagar suas contas - terá de enfrentar grupos muito bem organizados, controlados em sua maioria pelo PT, se quiser prevalecer nos tais conselhos populares, aos quais todos os órgãos da administração pública federal devem dar satisfação, conforme determina o decreto. A esse embate desigual, próprio das ditaduras, o governo petista dá o nome de "ampliação dos mecanismos de participação social".

Depois que a Câmara anulou o decreto de Dilma, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, disse que os parlamentares votaram "contra uma vontade irreversível do povo brasileiro" e agiram "contra os ventos da história". Tal arroubo - que lembra o discurso de líderes totalitários que encarnavam a "vontade popular" e diziam respeitar as "leis da história" - mostra que os dirigentes petistas não pretendem recuar de sua intenção de encoleirar a democracia no País.

Petrolão

Presidente da Transpetro pede licença


Em meio a denúncias de que teria participação no suposto esquema de pagamento de propina na Petrobras, o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, pediu licença temporária do cargo nesta segunda-feira (3), segundo informou nota divulgada pela companhia (leia a íntegra da nota no final). A Transpetro é uma subsidiária da Petrobras, responsável pelo transporte de combustíveis e por processamento de gás natural.

"Decido de forma espontânea requerer licença sem vencimento pelos próximos 31 dias. Tomo a iniciativa de afastar-me temporariamente para que sejam feitos, de forma indiscutível, todos os esclarecimentos necessários.Trata-se de um gesto de quem não teme investigações", diz Machado na nota.
Em depoimento à Justiça do Paraná, o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa citou Machado como responsável pelo pagamento de R$ 500 mil em propina oriunda de contratos da estatal supostamente superfaturados, entre 2009 e 2010. Machado nega.
Na nota divulgada à imprensa, Sérgio Machado afirma que, com a licença, pretende evitar atrasos na divulgação do balanço da Petrobras referente ao terceiro trimestre.
Ele também disse ter orgulho da gestão à frente da subsidiária e que é vítima de “imputações caluniosas” feitas por Paulo Roberto Costa. Segundo Machado, os relatos do ex-diretor à Justiça em delação premiada são “levianos e absurdos”.
“Estou certo do pleno rigor e lisura de minha gestão na Transpetro, e tranquilo quanto ao curso das investigações. Tenho todo o interesse de que tudo seja averiguado rapidamente”, disse.(Com G1)

ANVISA

Suspensa venda de medicamentos, saneante e cosmético


A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou hoje (3) a suspensão da distribuição, comercialização e do uso de lote do medicamento Torisel 25 mg/ml (Tensirolimo). A empresa fabricante, Wyeth Indústria Farmacêutica Ltda, comunicou o recolhimento voluntário do lote após receber queixas relatando a presença de cristais no diluente do medicamento citado. Também foi determinada a suspensão de lotes do medicamento Yervoy (Ipilimumabe) 200 mg/40 ml, solução injetável, fabricado pela Bristol-Myers Squibb Farmacêutica S.A.

A agência interditou cautelarmente, pelo prazo de 90 dias, o lote 002 do saneante Desinfetante para uso geral – Eucalipto, marca Candura, 2l, fabricado pela Iplasa Indústria e Comércio de Produtos Domissanitários. O lote apresentou resultado insatisfatório no ensaio de teor de tensoativo catiônico e determinação de pH.



Também foi determinada a interdição cautelar do lote 1574 do cosmético Hygipart Gel Antisséptico (Gel Alcoólico Antisséptico). O lote foi fabricado pela empresa Kelldrin Industrial Ltda em 01/2014 e tem validade até 01/2016. Segundo a Anvisa, a medida foi tomada porque foi insatisfatório o resultado do ensaio de teor de álcool etílico.

PIB

Previsão é de crescimento menor

Como reflexo da inesperada elevação da taxa básica  de juros, de 11% para 11,25% ao ano, economistas ligados à instituições financeiras passaram a prever um crescimento menor do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A previsão de uma alta de 0,27%  reduzida para 0,24%. É a menor previsão de crescimento desde 2009.
Os analistas apostam, também, numa alta maior da Taxa Selic em 2015.

Bom Dia!

Um TCU menos rigoroso!

Com a aposentadoria do ministro José Jorge, no próximo dia 18, o governo deseja que o novo indicado para o Tribunal de Contas da União seja um aliado seu. Afinal, para o governo, José Jorge é considerado pelos aliados da presidente Dilma, um ministro muito rigoroso no julgamento de casos considerados delicados. Vale lembrar que José Jorge, como relator, votou pelo bloqueio dos bens de 11 executivos da Petrobras por prejuízos de US$ 792 milhões na aquisição da refinaria de Pasadena. Como o caso segue sendo investigado, o governo teme que conselheiros da administração da estatal, que deram aval à compra, sejam implicados, incluindo a própria presidente.

Preocupado com o que poderá acontecer no futuro, o Planalto trabalha para que um aliado seja o indicado, e já destacou os nomes de Ideli Salvati, ministra de Direitos Humanos e da senadora Gleisi Hoffmann (PT), derrotada na disputa pelo governo do Paraná. Ou seja, quer colocar a raposa cuidando do galinheiro.

Como diria um velho jornalista amigo meu, “é de ficar perplexo” diante da notícia que está nos jornais de hoje. O governo simplesmente quer que o Tribunal de Contas da União, não seja tão rigoroso e trabalha para que aliados seus ocupem a vaga de um ministro que não usa panos quentes para julgar casos de supostas falcatruas em órgãos governamentais.

Na verdade, o que o governo liderado pela presidente Dilma Rousseff (PT) quer, é a indicação de um ministro mais amigável, que não cause muitos problemas, por exemplo, ao seguir examinando o escândalo de desvio de verbas públicas na Petrobras.

E depois querem falar em adversários que, segundo o governo, jogaram a sujeira para debaixo do tapete. Façam o que eu digo, jamais o que eu faço! Simples assim.

Tenham todos um Bom Dia!