Como roubaram a
Petrobrás
O ESTADO DE
S.PAULO
12 Outubro 2014
Começam a brotar os detalhes daquele
que se afigura como um dos maiores escândalos de corrupção da história
brasileira - o assalto à Petrobrás, que teria movimentado ao menos R$ 10
bilhões. Os mais recentes depoimentos dos principais personagens desse
escabroso esquema, montado para drenar os recursos da maior empresa estatal do
País, revelam a quem foi repassado o produto do roubo - e, mais uma vez, como
tem sido habitual ao longo dos governos lulopetistas, aparecem fartas digitais
do PT.
Fica cada vez mais claro que figuras
de proa desse partido - muitas das quais já foram presas por corrupção -
permitiram na última década o arrombamento dos cofres do Estado por parte de
delinquentes, servindo-se desse dinheiro para financiar seu projeto de poder.
À Justiça Federal no Paraná, Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobrás e um dos pivôs
do escândalo, confirmou que uma parte do dinheiro desviado financiou as
campanhas do PT, do PMDB e do PP em 2010.
Contando detalhes que só quem
participou da operação poderia conhecer, Costa revelou que de 2% a 3% dos
contratos superfaturados eram desviados para atender os petistas. Segundo ele,
várias diretorias da estatal eram do PT. "Então, tinha PT na Diretoria de
Produção, Gás e Energia e na área de Serviços. O comentário que pautava a
companhia nesses casos era que 3% iam diretamente para o PT", relatou o
ex-diretor, em depoimento gravado. No caso de sua diretoria, Costa afirmou que
os 3% eram repartidos entre o PP, ele e o doleiro Alberto Youssef, o outro
operador do esquema. Já a Diretoria Internacional repassava os recursos
desviados para o PMDB, segundo disseram Costa e Youssef.
Costa afirmou que o contato dos
diretores envolvidos nos desvios era feito "diretamente" com João
Vaccari Neto, tesoureiro do PT. O nome de Vaccari Neto foi confirmado por
Youssef, que também prestou depoimento à Justiça Federal.
Os tentáculos do esquema não se
limitavam às diretorias da Petrobrás. Em 2004, segundo declarou Youssef, os
"agentes políticos" envolvidos no escândalo pressionaram o então
presidente Lula a nomear Costa para a Diretoria de Refino e Abastecimento,
ameaçando trancar a pauta do Congresso. "Na época, o presidente ficou
louco e teve de ceder", disse o doleiro. Esse relato, se confirmado,
revela como a máfia instalada na Petrobrás se sentia à vontade para manipular
até mesmo o presidente da República e o Congresso em favor de seus interesses
criminosos. E essa sem-cerimônia talvez se explique pelo fato de que membros
proeminentes do próprio partido de Lula, a julgar pelos depoimentos, estavam
cobrando pedágio e se beneficiando da roubalheira na estatal.
Os depoimentos de Costa e de Youssef
foram os primeiros dados à Justiça depois do acordo em que decidiram contar
tudo o que sabem em troca de redução de pena. Se oferecerem informações falsas,
perderão imediatamente o benefício - logo, os dois têm total interesse que sua
delação seja levada a sério.
Além disso, ambos ofereceram atas e
documentos que, segundo eles, comprovariam as reuniões da quadrilha, os
esquemas de pagamento e as transações para lavagem de dinheiro em empresas
offshore. As autoridades sabem que estão lidando com material explosivo.
Segundo a defesa de Youssef, ele e Costa foram apenas operadores do esquema -
os verdadeiros líderes "estão fora desse processo, são agentes
políticos".
Diante da enorme gravidade dos fatos
até aqui relatados, e ante a certeza de que se trata apenas de uma fração de um
escândalo muito maior, seria legítimo esperar que Lula e a presidente Dilma
Rousseff viessem a público para dar explicações convincentes sobre o
envolvimento de seus correligionários nos crimes relatados. No entanto, Dilma
preferiu queixar-se do vazamento dos depoimentos de Costa e de Youssef - como
se o mais importante não fosse o vazamento, pelo ladrão, de dinheiro da
Petrobrás. Já a reação de Lula foi típica daqueles que se consideram moralmente
superiores: ele se disse "de saco cheio" das denúncias de corrupção
contra o PT. Pois os brasileiros podem dizer o mesmo.