Recuo deve ser o
maior desde 1996
No 2º trimestre, recuo é dado como
certo pelo nível de incertezas, juros altos e percepção de risco de
racionamento de energia
A queda nos investimentos é dada como
certa no segundo trimestre do ano, período para o qual um recuo no Produto
Interno Bruto (PIB) é cada vez mais provável, como indica a queda de 1,2% no
IBC-Br, em relação aos três primeiros meses do ano, divulgada sexta-feira pelo
Banco Central.
Dados sobre as indústrias da
construção civil e de bens de capital, além das pesquisas de confiança, sugerem
que o apetite para investir foi pequeno de abril a junho. A incerteza elevada é
apontada como principal problema.
Os investimentos medidos pela
formação bruta de capital fixo, componente do PIB caíram 11% na comparação com
o segundo trimestre de 2013 e 5% ante o trimestre imediatamente anterior, o
quarto consecutivo nessa base de comparação, interrompendo a retomada nos
investimentos verificada no ano passado.
Após alta de 5,2% nos investimentos
em 2013, a consultoria projeta recuo de 5,9% este ano.
Os investimentos são o componente da
demanda que mais puxou o PIB do segundo trimestre para baixo. O elevado nível
de incertezas, a ação do BC para frear a economia com a alta dos juros e a
percepção de risco de racionamento de energia no primeiro semestre derrubaram
os investimentos.
De abril a junho, cresceu a fatia de
empresas apontando impeditivos para investir, segundo a Sondagem de
Investimentos da Indústria de Transformação, apurada pela Fundação Getúlio
Vargas: 49% disseram que há entraves, maior porcentual desde 2009. As
incertezas em relação à demanda aparecem no topo da lista, principalmente no
caso das indústrias de bens de capital (caminhões, máquinas e equipamentos) e
de bens de consumo duráveis (veículos, geladeiras e fogões).
Entre as empresas que pretendem
investir, a intenção de substituir máquinas ou equipamentos foi a que mais
ganhou força.
“O custo Brasil não permite competir.
Só louco investe no Brasil”, disse o presidente da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Benjamin
Steinbruch.
A CSN em si não cortou investimentos.
Ao divulgar o balanço, a empresa reafirmou a projeção de investir neste ano R$
2,8 bilhões. Também no ramo siderúrgico, a Gerdau anunciou no fim do mês
passado o fechamento de sua unidade em Sorocaba e, em seguida, a redução dos
investimentos deste ano, de R$ 2,9 bilhões para R$ 2,4 bilhões. “Essa redução
do desembolso é um pouco frente ao cenário, com pouca visibilidade”, disse o
diretor de Relações com Investidores da Gerdau, André Pires.
A mineradora Vale e a Petrobrás, duas
das maiores empresas do País, também investiram menos no segundo trimestre. A
primeira investiu US$ 2,469 bilhões, queda de 28,3% em relação ao mesmo período
do ano passado, excluindo pesquisa e desenvolvimento e aquisições.
No caso da Petrobrás, os
investimentos somaram R$ 41,499 bilhões no primeiro semestre, 6% abaixo do
mesmo período de 2013.
“O que vemos agora é uma
desaceleração contínua. Estamos no estágio final de um processo de piora dos
últimos quatro anos. Nesse sentido, empresas estão pensando não só em não
investir, mas em encerrar turnos de trabalho e até em fechar fábricas”, diz o
economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, ao comparar o quadro atual com
o da virada de 2008 para 2009, ápice da crise econômica mundial. (Agência Estado)