quinta-feira, 26 de junho de 2014

Vozes da Cidade

André Machado*

Você pode até achar que muitas coisas no mundo ocorrem ao acaso, mas certamente nem todas são assim. Acordei pela manhã e li um post da Gabi Chanas no twitter sobre a importância de olhar para trás e ter orgulho do que se faz e consciência de que se aproveitou as oportunidades que a vida lhe oferece. Saí, tive uma reunião e chego em casa preocupado com os desafios que tenho pela frente.
Abro o Facebook e a primeira postagem que aparece é do Luiz Arthur Ferrareto sobre o Vozes da Cidade, um programa que consagrou no rádio gaúcho o nome de Dilamar Machado. E junto uma foto do meu pai nos estúdios da Rádio Gaúcha (a foto compartilho abaixo, o texto está no link abaixo).
Certamente alguém está me dando muita força para ir adiante. Gostaria de compartilhar isto com vocês. Certo ou errado é o que meu coração manda.
*Jornalista


Dilamar Machado e os 40 anos do Vozes da Cidade - 2007

Luiz Artur Ferraretto*

Fonte: Nomes que fizeram a imprensa gaúchaPorto Alegre: Press & Advertising, n. 2, p. 31-2, set. 2003.

Na Gaúcha, em Porto Alegre, há umas quatro décadas, um programa vai explorar o caráter assistencial, dando espaço para as reclamações da população em uma época de extremo controle sobre tudo o que possa ser considerado uma crítica ao poder constituído, neste caso, os militares e aos interesses por eles representados dentro do governo ditatorial imposto ao país em 1964. Primeiro grande sucesso do gênero no rádio do Rio Grande do Sul, o programa Vozes da Cidade coloca o ouvinte e seus problemas no ar. Lançado em 1967 e apresentado por Cândido Norberto, explora, de início, a tecnologia disponível para levar ao público gravações de ruídos e de depoimentos pinçados do cotidiano porto-alegrense – do dia a dia do vendedor ambulante ao dos motoristas de táxi –, tudo “costurado” pela palavra fácil característica do apresentador. Já com Dilamar Machado no comando, abre espaço, das 13h15 às 14h, para as queixas da população de baixa renda e se torna um fenômeno de audiência:

– Comecei com os problemas comunitários. Eu me lembro que durante uma semana critiquei o prefeito Célio Marques Fernandes, porque a Vila Santa Rosa não tinha saneamento básico, água potável e pavimentação. Até que o prefeito não aguentou e foi no meu programa dizer que já havia providenciado água para a vila. Aquilo me mostrou a força que o rádio tinha. Esse fato popularizou muito o programa.

O repórter Benami Salts, antes escalado para a gravação dos sons das ruas de Porto Alegre, passa a percorrer a cidade, registrando as queixas e os problemas da população. Ao prédio da Rádio e TV Gaúcha, no morro Santa Teresa, acorrem de 200 a 300 pessoas em média, lotando, muitas vezes, o pátio da empresa. Motoristas de táxi participam, buscando, como voluntários, donativos nas residências de classe média e alta em bairros como Bela Vista, Moinhos de Vento e Petrópolis, a indicar uma abrangência bem maior deste tipo de programa.

A popularidade de Dilamar Machado vai se refletir nas eleições para a Câmara Municipal de Porto Alegre, realizadas em 1968, quando, concorrendo pelo oposicionista Movimento Democrático Brasileiro, o apresentador do Vozes da Cidade recebe o apoio de 13 mil eleitores, representando 5% do total de votos considerados válidos na capital gaúcha. No ano seguinte, já com o país sob a tutela do Ato Institucional n. 5, o vereador usa a tribuna para denunciar o chamado Caso das Mãos Amarradas, o assassinato por forças da repressão política do sargento Manoel Raimundo Soares. Preso em 11 de março de 1966, o militar ligado ao Movimento Revolucionário 26 de Março, organização de esquerda, fica sob a guarda da Polícia do Exército e do Departamento de Ordem Política e Social. Cinco meses depois, o corpo do sargento, com sinais de tortura, é encontrado boiando no rio Jacuí, com as mãos e os pés atados às costas. Uma audácia em tempos de ditadura militar, o discurso de Dilamar vai levar, na sequência, à cassação dos seus direitos políticos. Na época, já havia se transferido para a Difusora Porto-alegrense. Sem poder utilizar a denominação Vozes da Cidade, de propriedade da Gaúcha, apresenta, no mesmo estilo, o Programa Dilamar Machado. Cada vez que um ouvinte ia entrar no ar, o apresentador aproveitava, no entanto, para fazer uma referência:

– Mais uma voz da cidade que vai falar conosco...

A cassação de Dilamar vai lhe custar o emprego. Em tempos de ditadura, para os donos do poder, era mais interessante calar as vozes da cidade.
*Jornalista



Manchetes

Nos jornais de hoje





Destaques de jornais brasileiros nesta quinta-feira, dia 26 de junho





- Médico cubano é indiciado após 4 grávidas denunciarem abuso (O Globo)

- Sem a presença de Barbosa, STF libera trabalho para Dirceu (Zero Hora)

- BC vê chance maior de inflação estourar teto da meta em 2014 (Estadão)

- Juro bancário é o maior em quase três anos (O Sul)

- Assistir a três horas diárias de televisão dobra risco de morte prematura 
(Estado de Minas)

- Mais de 20 mil pessoas passam pela Fan Fest (Correio do Povo)

- PP faz manobra para apoiar reeleição de Dilma e convenção para na Justiça (Correio Braziliense)

- Doleiro da Lava Jato é solto com fiança de R$ 2 milhões (Gazeta do Povo/PR)

- Governo cedeu áreas à Petrobras para evitar críticas nas eleições (Folha de São Paulo)

- BC prevê desaceleração em todos os setores da economia (Diário de Pernambuco)

- Comunidades ainda vivem sem saneamento no Ceará (Diário do Nordeste)