Copa não
é só festa de futebol!
Claudio
Dienstmann*
O antigo
craque Paulo Roberto Falcão disse que “torcedor de Copa do Mundo não é torcedor
de futebol, é torcedor de Copa”. O jornalista Ibsen Pinheiro acrescentou que
“nós que gostamos permanentemente de futebol sofremos uma verdadeira invasão
durante a Copa, porque no período todo mundo se interessa por futebol”. A
situação para o jogo Coreia do Sul x Argélia, neste domingo 22 de junho no
Beira-Rio, confirma exatamente isso: muito mais do que futebol, Copa do Mundo é
um grande acontecimento universal.
Ninguém
nesses dois países claramente jamais imaginou grandes coisas na Copa, incluindo
as dezenas de milhares de seus torcedores que atravessaram o mundo para
acompanhar os dois times em 2014. Apesar das escassas possibilidades em campo,
porém, todos os ingressos para o jogo Coreia x Argélia foram vendidos. É que
mais do que apenas viver a sua paixão por futebol, coreanos e argelinos e todos
os demais visitantes vieram se divertir, desfrutar, fazer amizades, ver pessoas
e lugares, conhecer costumes e culinária, curtir em paz, se pintar, gritar,
rir, namorar, participar, compartilhar, tomar cerveja. Ibsen e Falcão estão
cobertos de razão, Copa não é apenas uma bola de futebol rolando: de que outro
jeito explicar os 67 mil espectadores com maioria da Colômbia e Costa do Marfim
no jogo entre as suas equipes em Brasília quinta-feira dia 19, holandeses e
australianos confraternizando pacificamente em Porto Alegre quarta 18, por
exemplo?
Nem
mesmo é necessário comprar um ingresso e ir a um estádio para desfrutar a festa
da Copa. O jornalista Wolfgang Niersbach, que depois foi chefe de
imprensa e diretor de mídia e que hoje é presidente da Federação Alemã, levou
essa descoberta para a prática na Copa de 2006. Ao ver a invasão da Alemanha
(que pretendia mesmo e conseguiu mostrar uma cara mais risonha),
especialmente por sua vizinhança sem ingressos, foi Niersbach quem pensou as
Fanfests, espalhando telões por todas as 12 cidade-sedes, e que reuniram cinco
vezes mais pessoas em espaços públicos do que as milhões delas dentro dos
estádios. A ideia foi tão boa que a Fifa correu atrás.
Mais
importante do que entender de futebol é gostar de futebol, das suas
consequências humanas e afetivas. Tem a história daquela senhora que foi pela primeira
vez a um jogo só para acompanhar o marido-torcedor, ela só sabia que era um
Gre-Nal, e a horas tantas afinal fez a pergunta definitiva, “Meu bem, contra
quem mesmo é esse Gre-Nal de hoje?”.
Em Copa,
nem precisa saber de futebol, pode ser simplesmente como a senhora que não
sabia contra quem era o Gre-Nal e foi só acompanhar o marido. E jogos à parte,
como Coreia do Sul x Argélia neste domingo no Beira-Rio, ainda vai ficar depois
também o legado do campeonato – como por exemplo as milhares de câmeras de
segurança que começaram a povoar Porto Alegre, para dar só um exemplo.
*Jornalista
e Pesquisador