domingo, 23 de fevereiro de 2014

Seminário

Aos meus amigos
Viajo, no final da tarde, para o Rio de Janeiro. Vou participar, juntamente com o secretário João Bosco Vaz, de um Seminário de Comunicação da FIFA. Durante dois dias vamos trabalhar com representantes das 12 cidades sede sobre como deve funcionar o esquema de comunicações durante a Copa do Mundo. Jornalistas do mundo inteiro estarão no Brasil para cobrir a Copa. Aqui em Porto Alegre, certamente estarão representantes de veículos dos países cujas seleções jogarão no Beira-Rio. Todas as questões envolvendo o atendimento e as necessidades dos jornalistas que virão prá cá, serão tratadas no seminário.
Vou tentar atualizar meu blog durante a segunda e a terça-feira. Se não der, prometo que na quarta, quando já estiver de volta, conto tudo sobre os preparativos, pelo menos em termos de cobertura jornalística, para a Copa do Mundo que começa no dia 12 de junho. 
Grande abraço!

Crônica

"A presidente comeu feito uma gringa legítima"

Cesar Cabral*

A palavra gringo (a), afirmam os que entendem desse assunto, tanto pode ter origem espanhola como portuguesa. Como podemos viver ainda alguns anos ou o que seja a vida toda com essa dúvida? Isso não tem a menor importância; ou nenhuma.
Mas, na certa, os mexicanos que odeiam os americanos – só os que odeiam – se referem a eles com gringos. Mas, em geral é aceito como um tratamento ora pejorativo, ora nem tanto, aqui no Brasil, para todo e qualquer estrangeiro.
Porém, no Rio Grande do Sul, gringos são os italianos colonizadores da serra gaúcha vindos da região do Vêneto, Itália; e eles não se tratam de gringo entre si. Por isso me chama atenção o fato do dono da galeteria onde Dilma almoçou, em Caxias do Sul, ter se referido a ela como “uma gringa”.  As coisas mudam; talvez tenham mudado.
Vivi desde dois ou três meses de idade, depois de nascer em Porto Alegre, em Veranópolis - na época chamada Alfredo Chaves - até do meio pro fim da minha adolescência. Passei a Segunda Guerra Mundial lá e aprendi a falar o Talian, proibido por Getulio Vargas, em seu acerbado e interesseiro nacionalismo, fechando escolas e prendendo quem falasse esse dialeto italiano veneziano; todos os habitantes da pequena cidade.
A Visita da Dilma a Caxias para participar a abertura da Festa da Uva é ritual de qualquer presidente de plantão. Mas o destaque da imprensa local para o almoço de Dilma é tão provinciano quanto inútil. Dilma é filha de gringo búlgaro e a única gaúcha nascida em Belo Horizonte; uma impossibilidade física tão incompreensível quanto a doutrina trinitarista do cristianismo católico. Fora da razão kantiana, só mesmo a fé. Pois a “gringa” comeu de “monton”: fettuccine ao molho de tomate seco, e repetiu, (todos sabem que é aquela “pasta” larga ao contrário do spagetti que é fino e roliço). Depois saboreou Tortéi, que a “gringa” queria comer mais, não fosse o fato de ter reclamado da massa, “que passou tarde”(!). Depois de repetir um prato de fettuccine, comer Tortéi, vai deixar a “gringa” ainda mais gorda e com problemas de saúde, sobretudo diabetes, se empanturrando de carboidratos desse jeito.
De uma olhada nessa que é a legitima Tortéi, que eu preparo com relativo sucesso: 1 kg de farinha de trigo. Sal a gosto. 5 colheres de óleo. 1 ovo. Leite ou água para a massa. Água fervente o suficiente para cozinhar com sal a gosto e um fio de óleo. Recheio: 1 abóbora grande cozida em pedaços e espremida ainda quente, preferência abóbora cabotia. Sal e pimenta a gosto. 1 cebola média picadinha. 1 tomate médio picadinho. Cebolinha e salsinha a gosto picadas. Molho: 1 Kg de carne moída. Sal e pimenta a gosto. 2 embalagens de molho de tomate. 1 folha de louro. 1 cebola média picada. 2 dentes de alho amassados. 2 colheres de sopa de óleo.
Depois foi servida polenta brustolada (que não afaço a menor ideia o que é isso, mas creio que sabemos todos nós o que é uma polenta) e depois o galeto, que disse ter ficado impressionada com o sabor. Até onde se sabe galeto é galeto e tem sabor de galeto; só não sabe quem nunca comeu, e como também se sabe quem nunca comeu, quando come se lambuza. E bebeu uma taça de vinho merlot e de sobremesa comeu sagu com creme. Pra encerrar o “frugal almoço” de um dia de semana, bebeu café passado na hora. “Ela não bebe café expresso”,  disse Osmar.
Depois disso, lembrei que “o grelo do bacalhau da Dilma é fresco e comestível”; como explicou o Chef Camilo Jaña, do restaurante Cafeína, cidade do Porto em Portugal, quando Dilma esteve por lá em 2012. Nesse delírio imaginei a “gringa” esfregando a pança e arrotando o que evidentemente não aconteceu devido a sua fina educação, sua sociabilidade, além do rigor formal e protocolar que o cargo lhe impõe.
Deigles Pereira, o garçom, concluiu que a “gringa” leva o trabalho a sério. Maravilhado, foi assim que descobriu esse fantástico desempenho: -“Ela ligou para o Aloisio Mercadante e alguém quis passar a ligação para uma assessora dele. Ela disse que não, que só falaria com o Mercadante em pessoa. E rapidinho ele atendeu. Deu pra ver que a mulher leva o trabalho a serio mesmo.” Deigles, o garçom enxerido, que fica ouvindo a conversa dos outros, deduziu e concluiu; ele é um farsante, legitimo representante do típico eleitor brasileiro. Já participei de várias eleições, desde a primeira vez, na Radio Guaíba, na companhia do Dr. Paulo Milano, de Kombi, dirigida por ele, percorrendo sessões eleitorais em busca de notícias. E também participei de mais outras campanhas eleitorais em outros Estados. Nas pesquisas de intenção de voto o que mais, sempre, me chamou atenção, foram os motivos pelos quais os eleitores votavam em cicrano ou beltrano: ele trabalha (ou vai trabalhar – no Brasil trabalhar é uma qualificação do indivíduo); ele merece (ninguém pode ser eleito por merecimento pelo simples fato de que um cargo político não poder ser exercido com ações merecedoras – competência, dedicação e conhecimento não são sinônimos de merecimento); ele (a) é bonito (a); simpatia e outras bobagens totalmente desprovidas de uma ideologia e de um saber a quem se está entregando a chave do nosso cofre.
Depois do almoço na galeteria, a “gringa”, como disse Osmar ao vê-la comer tão bem e tanto, dono da Galeteria Casa Di Paolo, (não pronuncie Paôlo, pela ira de Baco. Isso não existe na Itália. Foi uma invenção da TV Globo numa novela contando a história desses “gringons”). Pois a “gringa” tirou fotos e foi-se.
Enquanto isso, longe dali, Felipão debulhava milho, um dos eventos tradicionais da Festa da Uva, como se fosso um “gringon” de Caxias. Quem sabe se por ter jogado futebol no Caxias e no Juventude; era zagueiro...médio. Mediano é melhor, Só que ele é um “gringon” de Passo Fundo, onde nasceu.

*Jornalista e escritor