Novo modelo irrita base aliada
A presidente Dilma Rousseff aproveitou a volta do
recesso para inaugurar um novo modelo na relação com deputados e senadores. A
ordem era abrir mais canais de diálogo com os parlamentares que integram a base
de apoio ao governo. Na primeira semana de trabalho do Congresso, no entanto, o
Palácio do Planalto viu a sua articulação política dar sinais de ineficiência,
provocando irritação e desconfiança em setores da base, durante as discussões
para a votação do chamado orçamento impositivo.
Após dias de tensão, o Planalto conseguiu na última hora adiar a votação da proposta ,
que obriga o governo a executar as emendas parlamentares aprovadas na proposta
orçamentária. A desistência do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), em pautar o tema no plenário, no entanto, ocorreu mais em função de
um pedido feito pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) do que pela ação da
ministra Ideli Salvatti, da Secretaria de Relações Institucionais (SRI).
Na noite de segunda-feira, logo após Dilma se reunir com líderes
da base e pedir uma trégua na relação entre governo e Congresso, Ideli foi
alertada pelo líder do PT, José Guimarães (CE), de que o tema do orçamento
impositivo seria levado adiante pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN). O aviso foi dado longe dos ouvidos dos demais líderes,
apontando a necessidade de o Planalto se mover para impedir a votação. Mesmo
assim, Ideli, segundo relatos, passou a terça-feira sem se envolver diretamente
nas conversas com líderes da base ou com o próprio presidente da Câmara.
A forma como o Planalto tratou o assunto irritou deputados
governistas, principalmente do PT, que se viram sozinhos contra a proposta.
Imaginando que a batalha estava perdida, o líder do PT na Câmara, José
Guimarães, chegou a desabafar: “Os fatos atropelaram os desejos”. O vice-líder
do governo, Henrique Fontana (PT-RS), também reclamou. “Tem que ser com emoção.
Enfim, cada dia com sua agonia”, disse. (Com IG/Conteúdo)