Nome de Odilo Scherer ganha força entre cardeais
Cardeais americanos e parte dos prelados da Europa e de
países em desenvolvimento começam a promover manobras para dar força a uma candidatura
do cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, na sucessão de Bento XVI.
O Estado apurou que, embora não se
apresente como um concorrente ao cargo, o brasileiro é citado em conversas que
vêm ocorrendo em restaurantes discretos em Roma, casas e encontros informais
entre cardeais. Um dos grupos que apoiariam d. Odilo seria o dos Estados
Unidos, que há anos vem destacando a necessidade de o pontificado sair da
Europa para que a Igreja tenha sua força renovada.
O problema, no caso das eleições
que devem começar na semana que vem, é que escândalos de abusos sexuais
praticamente frearam qualquer chance de que um dos cardeais dos EUA ganhe um
amplo número de votos. A escolha de vários deles, portanto, seria d. Odilo
Scherer.
Em Roma, esse grupo já começou a
buscar apoio de outros cardeais para que, na primeira votação no conclave,
Scherer apareça com um número significativo de votos. "Isso será
fundamental na primeira rodada. Depois, só Deus saberá o que vai ocorrer",
disse uma fonte próxima aos cardeais americanos.
A estratégia é encontrar apoio na
Europa, o que ajudaria a romper uma eventual coalizão no Velho Continente em
torno de um nome local.
Perfil adequado. O brasileiro é
visto como tendo vários dos elementos do perfil que a Igreja busca no futuro
papa. Com 63 anos, é um dos mais jovens do grupo - e, apesar de jovem, é
considerado como alguém de grande confiança pela cúpula do clero em Roma. Prova
disso é que foi reconduzido ao cargo de inspetor das contas do Instituto de
Obras Religiosas, o Banco do Vaticano. Isso em meio a uma profunda crise na
instituição.
Scherer também serviria como um
"relações públicas" para a Igreja, que mostraria que está disposta a
ter um papa de fora da Europa, como críticos vêm pedindo. Outra vantagem seria
o alinhamento do brasileiro ao pensamento teológico da cúpula e o fato de que
uma eventual eleição não representaria uma "revolução".
O grupo de apoio a d. Odilo Scherer
também espera que o brasileiro tenha chances graças à divisão cada vez mais
profunda entre os cardeais italianos. Desde o anúncio da renúncia de Bento XVI,
um lobby pró-italiano tem feito parte das especulações sobre o novo papa. Para
muitos no Vaticano, o país precisaria recuperar o trono de Pedro, depois de
mais de 30 anos de ausência.
Mas, à medida que o conclave se
aproxima, os 23 cardeais italianos com poder de voto não conseguem chegar a um
acordo para o lançamento de um nome único. Angelo Scola, de Milão, é o favorito
de Bento XVI. Mas sofre a resistência de parte do clero italiano, que
preferiria alguém com um perfil menos conservador.
Outra prova de que Scherer sabe que
está sendo citado amplamente como um dos favoritos é o fato de ter evitado dar
entrevistas, algo visto dentro do clero como autopromoção.
Na semana passada, em conversa
rápida com a reportagem do Estado enquanto entrava apressado em sua residência,
afirmou que a decisão de Bento XVI de renunciar ao cargo mostrava "uma
grandeza de alma" e uma enorme "honestidade" com relação à
Igreja.
De acordo com dom Odilo, Bento XVI
demonstrou ter a consciência de que já é um homem idoso, sem condições de levar
adiante a difícil missão de liderar a Igreja. "É um gesto que nos
surpreende e, ao mesmo tempo, um gesto de grandeza” (Agência Estado)