A cidade
inteligente
José Fortunati*
No Brasil
foram poucos os líderes políticos que compreenderam que o verdadeiro
reconhecimento não está somente no trabalho realizado, mas também naquilo que
se espera e projeta para o futuro e no legado de transformações na vida
pessoas.
No Rio de
Janeiro, o melhor exemplo é a reforma urbana realizada por Pereira Passos, que
ainda hoje influencia a vida dos cariocas, mais de um século depois da
realização de tais intervenções.
As
cidades inteligentes são aquelas que conseguem compreender esses Desafios e
lançam mão de todas as ferramentas que os avanços tecnológicos permitem,
tornando-se mais eficientes e prestando melhores serviços ao cidadão.
Foi com
esse pensamento que criamos o projeto Cidade Cognitiva, cujo objetivo é simular
os impactos antes da tomada de decisões sobre obras e ações demandadas pelo
Orçamento Participativo, onde a população porto-alegrense participa ativa e
diretamente na definição das prioridades para a gestão municipal. E por esse
trabalho Porto Alegre acabou de conquistar o reconhecimento de Cidade
Inteligente, título conferido no evento Smarter Cities Challenge Summit,
promovido pela IBM.
O
conceito cidade inteligente é amplo e individual. Resolver o problema de
mobilidade urbana no caos do trânsito das grandes metrópoles, por exemplo, tem
o mesmo peso das ações inovadoras adotadas por um município cuja prioridade
seja a Produção de alimentos. O que importa é que as ações promovam
transformações na vida das pessoas e na sua forma de dialogar com a cidade.
Cidade pioneira na adoção do Orçamento Participativo, Porto Alegre agora
precisa avançar na busca do aperfeiçoamento democrático da aplicação dos
recursos públicos.
Uma via
de acesso capaz de suprir a demanda do trânsito, hoje, pode significar
desperdício de dinheiro se houver a saturação precoce dessa obra. A realização
de intervenções urbanas pontuais, para resolver problemas imediatos, acaba
transformando as cidades numa imensa colcha de retalhos, sem nunca conseguir
cobrir os pés.
O projeto
Cidade Cognitiva, que contará com o desenvolvimento de um software executado
por técnicos vindos da matriz daquela empresa americana para Porto Alegre, será
a primeira iniciativa de planejamento do futuro de uma capital envolvendo
tecnologia e participação popular.
Uma
cidade inteligente exige um espírito de Estado e não de governo. Os desafios
impostos aos municípios brasileiros em curto prazo são enormes, mas cada
prefeito tem o dever de olhar para além de sua gestão, planejando e preparando
as cidades para um futuro de desenvolvimento e sustentabilidade.
Esperamos
que o Cidade Cognitiva seja um embrião de uma ferramenta que auxilie os
gestores municipais nessa difícil, mas fundamental tarefa. Governar no
presente, com olhos no futuro.
*Prefeito
de Porto Alegre
- Artigo publicado no jornal O Globo
em 13.12.12