Operação Porto Seguro
Rosemary e seus bebês
Não sei se todos concordam, mas não recordo de tanto escândalo
envolvendo órgãos governamentais acontecendo ao mesmo tempo. Sei que surgirão
os que afirmarão que os escândalos só aparecem pelo fato da Polícia Federal
estar investigando como nunca. Pode ser, mas uma coisa, no meu entendimento,
não invalida a outra. Escândalo político, denúncias de corrupção em órgãos públicos
no Brasil, lamentavelmente é coisa quase rotineira. Parece que, finalmente,
estamos tomando providências sérias para acabar com a farra. Tomara.
Pois na última sexta-feira, 23, a PF estourou mais um reduto
de corrupção envolvendo Rosemary Nóvoa de Noronha, responsável pelo Gabinete da
Presidência em São Paulo, nomeada pelo ex-presidente Lula e mantida por Dilma
Rousseff. Rose, como é conhecida entre seus parceiros de falcatrua, teria sido,
durante 12 anos, assessora de José Dirceu. Aliás, foi para ele que ela ligou
quando a PF chegou em seu escritório.
Com ela, foram presos o Diretor de Infraestrutura da ANAC,
Rubens Carlos Vieira e seu irmão Paulo Rodrigues Vieira, diretor da Agência
Nacional de Águas.
Todos estão envolvidos em atos de corrupção com pagamento de
propinas, falsificação de documentos, recebimento de vantagens, incluindo cirurgia
plástica, cruzeiro com direito a show com dupla sertaneja, etc.Aliás, os irmãos Vieira são conhecidos nos meios palacianos como "os bebês de Rosemary".
Advocacia Geral da União
Flagrado pela Operação Porto Seguro, José Weber Holanda
Alves, adjunto de Luis Inácio Adams na AGU, tem um histórico nada recomendável
e que teve início quando ele era procurador-geral do INSS e assumiu a chefia da
Procuradoria-Geral Federal. Suspeito de irregularidades quando estava no INSS,
Weber foi demitido em 2003. A partir daí, passou a alcançar posições destacadas
na AGU, graças ao apoio de Luis Adams.
Em 2009, Adams queria que Weber fosse nomeado adjunto, o que
foi negado pela então chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ela não admitiu
nomear Weber por conta do histórico de irregularidades no INSS. Quando Dilma
saiu para concorrer, Adams conseguiu nomear o amigo Weber com o aval da nova
ministra Erenice Guerra.
Confesso que fico impressionado como eles se juntam e acabam
se ajudando mutuamente.
Do episódio, pode sobrar algo positivo. Preferido da
presidente para o cargo de ministro do STF, Luis Adams, que é gaúcho, parece
que está vendo suas chances acabarem, diante das denúncias envolvendo o
companheiro.
Aqui, também?
Confiança zero
Destacado pelo ex-secretário de Infraestrutura, Beto
Albuquerque por ser merecedor de “confiança zero” como diretor do DAER, o
arquiteto José Francisco Thormann, esteve na Suíça entre os dias 18 e 21 de
junho. Detalhe: todas as despesas, incluindo passagens, alimentação e
hospedagem, foram pagas pela Geobrugg AG.
Nada demais, não fosse o fato da empresa ter sido
subcontratada pela vencedora da licitação para obras na Rota do Sol. O DAER,
sob o comando de Thormann, foi o licitante do contrato que tem valor de R$ 14,6
milhões.
O roteiro, por oferecimento da empresa, incluiu Lisboa e Suíça,
numa viagem que aconteceu entre 17 e 27 de junho.
Apenas para lembrar, o Código de Conduta da Alta Administração
Estadual tem, entre suas regras, a proibição de “receber quaisquer vantagens,
tais como transporte, hospedagem e outros favores de particulares que sejam
titulares de interesse presente ou futuro em decisão governamental na área do
favorecido”.
Thormann justificou afirmando que, nos quatro dias de
visita, “conheceu as instalações da empresa e a tecnologia para contenção de
quedas de barreiras”.
Fatos como os relatados acima e que estão em todos os noticiários
de hoje, mostram um lado do Brasil que, sinceramente, eu não gostaria de conhecer.
Lamentavelmente, só conheço pelo fato de que este lado existe. Procurando bem,
vamos descobrir que os governos, principalmente o federal, está minado de
corruptos e vigaristas que se aproveitam dos cargos que ocupam para proveito próprio.
E o pior é que, analisando com um certo cuidado, vamos descobrindo que tudo faz
parte de uma grande quadrilha cujos integrantes são, invariavelmente, os
mesmos. Há sempre uma ligação profunda entre eles. Pobre Brasil.
Machado Filho