Gilmar Mendes confirma informações da Veja
Na tarde de segunda-feira
(28) o ministro Gilmar Mendes, do STF, concedeu entrevista ao jornal Zero Hora,
publicada no Clic RBS, onde confirma as informações divulgadas pela revista
Veja e desmentida por Lula em nota distribuída por sua Assessoria de Imprensa. Também
na tarde de ontem (28), Mendes confirmou, em entrevista a TV Globo, o conteúdo
da matéria da revista. A seguir, alguns trechos da entrevista e o que Gilmar
Mendes disse para a TV Globo.
ZH — Como foi essa conversa?
Mendes — Foi
uma conversa repassando assuntos variados. Ele manifestou preocupação com a
história do mensalão e eu disse da dificuldade do Tribunal de não julgar o
mensalão este ano, porque vão sair dois, vão ter vários problemas dessa índole.
Mas ele (Lula) entrava várias vezes no assunto da CPI, falando do
controle, como não me diz respeito, não estou preocupado com a CPI.
ZH — Como ele demonstrou preocupação com o mensalão, o que falou?
Mendes — Lula
falou que não era adequado julgar este ano, que haveria politização. E eu disse
a ele que não tinha como não julgar este ano.
ZH— Ele disse que o José Dirceu está desesperado?
Mendes — Acho
que fez comentário desse tipo.
ZH — Lula lhe ofereceu proteção na CPI?
Mendes — Quando
a gente estava para finalizar, ele voltou ao assunto da CPMI e disse "que
qualquer coisa que acontecesse, qualquer coisa, você me avisa",
"qualquer coisa fala com a gente". Eu percebi que havia um tipo
de insinuação. Eu disse: "Vou lhe dizer uma coisa, se o senhor está
pensando que tenho algo a temer, o senhor está enganado, eu não tenho nada,
minha relação com o Demóstenes era meramente institucional, como era com
você". Aí ele levou um susto e disse: "e a viagem de Berlim."
Percebi que tinha outras intenções naquilo.
ZH — O ex-ministro Nelson Jobim presenciou toda a conversa?
Mendes — Tanto
é que quando se falou da história de Berlim e eu disse que ele (Lula) estava
desinformado porque era uma rotina eu ir a Berlim, pois tenho filha lá, que não
tinha nada de irregular, e citei até que o embaixador nos tinha recebido e tudo,
o Jobim tentou ajudar, disse assim: "Não, o que ele está querendo dizer é
que o Protógenes está querendo envolvê-lo na CPI." Eu disse: "O
Protógenes está precisando é de proteção, ele está aparecendo como quem
estivesse extorquindo o Cachoeira." Então, o Jobim sabe de tudo.
ZH — Jobim disse em entrevista a Zero Hora que Lula foi embora antes e o
senhor ficou no escritório dele tratando de outros assuntos.
Mendes — Não,
saímos juntos.
Na TV Globo
Em entrevista à TV Globo, o ministro Gilmar Mendes confirmou que conversou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim de abril sobre a possibilidade de adiar o julgamento do processo do mensalão.
"Claro que houve a conversa sobre o mensalão e o ministro [Nelson] Jobim sabe disso", afirmou.
"O presidente disse da importância do julgamento do mensalão de que, se possível, não se julgasse esse ano, que não haveria objetividade. Eu objetei então que não me parecia possível adiar esse julgamento, dada a repercussão, dada a possibilidade de dois colegas não mais participassem, colegas que participaram do recebimento da denúncia", afirmou, em referência aos ministros Cesar Peluzo e Ayres Britto, que devem se aposentar neste ano.
Questionado se Lula teria lhe oferecido "blindagem" na CPI, Mendes disse que "a questão não se coloca dessa forma". Ele disse que Lula falou sobre o "domínio que governo tinha sobre a CPMI". "Aí eu entendi, depreendi dessa conversa que ele estava inferindo que eu tinha algo a dever nessa matéria de CPMI".
Mendes disse que, nesse momento, falou ao ex-presidente que a relação com Demóstenes era de conhecimento e funcional. "Aí ele um pouco ficou assustado e disse: 'E não tem? E essa viagem de Berlim?". Mendes teria então esclarecido o encontro, dizendo que estava na cidade para visitar a filha, como relatado pela revista "Veja".
Mendes disse que se sentiu perplexo pela possibilidade de Lula usar informação, que classificou de "falsa" sobre suposta ligação com Cachoeira. "Eu me senti perplexo, porque a relação com o ex-presidente sempre foi muito franca, muito cordial", disse.
Lula confirma encontro, mas nega interferência
no STF
Luiz
Inácio Lula da Silva confirmou, em nota, seu encontro com o ministro do Supremo
Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, mas rebateu a reportagem da revista Veja
negando a versão de que teria tentado intervir nas decisões do Supremo,
oferecendo blindagem a Mendes em troca de adiamento da votação do mensalão.
“A reunião
existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. ‘Meu
sentimento é de indignação’”, disse o ex-presidente Lula disse ainda que sempre
respeitou a autonomia e a independência do Judiciário e do Ministério Público e
que mantém o mesmo comportamento fora da Presidência. O ex-presidente afirma
que indicou “oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer
pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja”.
A oposição
encaminhou, nesta segunda-feira (28) uma representação para a Procuradoria
Geral da República pedindo que Lula seja investigado por corrupção ativa, tráfico
de influência e tentativa de coação em processo penal.
Leia a íntegra da nota
São
Paulo, 28 de maio de 2012
Sobre a
reportagem da revista Veja publicada nesse final de semana, que apresenta uma
versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre um encontro com o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 de abril, no escritório e na
presença do ex-ministro Nelson Jobim, informamos o seguinte:
1. No
dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu
escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes. A reunião
existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. “Meu
sentimento é de indignação”, disse o ex-presidente, sobre a reportagem.
2. Luiz
Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do
Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a ação penal do
chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do
Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República.
3. “O
procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão
ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do
Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em
favor de quem quer que seja”, afirmou Lula.
4. A
autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram
rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos. O comportamento do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum
cargo público.
Assessoria de Imprensa do Instituto Lula