Na edição de ontem
(14) publicamos artigo do cientista Marko Petek, contestando os que afirmam que
o aquecimento global não existe. A origem da discussão está em artigo de Janer
Cristaldo publicado no Blog do Prévidi. Hoje, estamos publicando a segunda
parte do artigo do Petek. A intenção é única e exclusivamente, esclarecer aos
leitores sobre um assunto tão importante. Tanto, que o Blog está à disposição
do Janer Cristaldo se julgar importante responder ao Petek. Boa leitura
Machado Filho
Como dói mudar, especialmente para os velhos
Marko Petek*
Dizem por aí que o ser humano age movido por apenas duas
razões: evitar a dor e ter prazer. Sendo que evitar a dor tem prioridade. Fácil
de entender, se você está faminto vai engolir o que aparecer primeiro e não
pedir que lhe sirvam um caviar.
Mudar dói. Mudar dói muito. Significa sair da zona de
conforto a que nos acomodamos. Significa abrir-se para o novo, abandonar
convicções arraigadas e por aí vai.
Mas a mudança é a única constante no universo: “tudo se
move” já dizia Galileu. Tudo muda.
Exceto algumas pessoas !
Esta mensagem é para aquelas pessoas que ainda mantém a
capacidade e a alegria de aprender. Que querem aprender-mudar-crescer.
Eu lembro dos anos 60. Lembro até bem. Naquela época a
impressão que eu tinha era que o mundo estava ruindo. Vejam só alguns fatos
marcantes: revolução dos jovens em Paris, chegada do homem a lua, Concílio
Vaticano II, Hippies, Pilula anticoncepcional,
Televisão ao vivo via satélite, Computador (ou melhor “cérebro
eletrônico”).
Hoje quando olhos para os 60 fico entusiasmado. Em termos
históricos é uma década como poucas ao longo da história. Claro que não há como
concordar com tudo, mas é inegável que foram os anos que mudaram tudo.
Como diz um professor meu da Ufrgs, muito querido: “Pobres
dos que vivem em tempos de mudança”.
Toda esta introdução é devida a recente onda de revolta
contra o assunto “Aquecimento Global” aí no Brasil. Mais uma vez a sociedade
brasileira exibe uma tendência em tomar a direção errada que é preocupante.
Lembro uma vez que ouvi o dono das Botinas Zebu, ao ser
entrevistado sobre a razão do seu sucesso declarar algo como: “sempre que
preciso tomar uma decisão escolho o caminho mais difícil, porque é onde tem
menos gente”. Sabias palavras. Palavras que tem tudo a ver com a resistência do
ser humano a mudança porque esta dói. E nós fugimos da dor.
Enquanto a Europa inteira toma medidas concretas para
preservar o meio-ambiente o Brasil dá uma de Avestruz e enfia a cabeça na
terra. Típico: “se eu não olhar não existe”. É como o paciente que não vai ao
médico com medo de que este descubra algo errado.
Confesso que tenho até vergonha da polêmica caipira sobre as
sacolinhas de supermercado. Como é que tem gente que ainda consegue defende-las?
Aqui já foram abolidas a anos! São um veneno para a natureza. Mas o problema é
que mudar algo dói e ....
O que é importante entender é que não estou aqui pregando
que a terra vai aquecer 50 graus, os oceanos vão invadir o planalto (se bem que
não faria mal algum darem uma chegadinha na Praça dos 3 poderes), nada disto. O
ponto é que não é necessário um aquecimento de 50 graus. Um ou dois graus
extras (além dos que a natureza já vai comandar) são suficientes para causar
quebras de safras, aumento do consumo de energia elétrica (iluminação,
resfriamento ou aquecimento), enfim piorar a vida de milhões e milhões de
pessoas.
Mas brasileiramente que somos preferimos imaginar que isto é
bobagem. Nos vestimos todos de cientistas e bradamos em alta-voz que os reais
cientistas estão errados. Porque se eles estiverem certos, teremos que mudar
hábitos e mudar dói.
Preferimos acreditar que o petróleo é eterno. E
empanturramos oligarquias produtoras de petróleo com toneladas de dólares
porque é mais confortável pagar qualquer preço que nos peçam do que buscarmos
soluções alternativas, limpas e que não financiem pessoas com as quais você não
casaria a sua filha. Isto é racional? Ou é confortável?
Todo o ponto está aí. No medo do ser humano em mudar. E este
medo aumenta com a idade.
Eu que já não sou jovem começo a entender isto melhor.
Quando era guri tinha uma agilidade grande, reflexos afiados, vitalidade. Agora tudo me dói. É a idade do
Condor: com dor no pescoço, com dor nas costas e por aí vai. Então para me
mexer eu sei que vou sentir dor. E aí o meu instinto me diz para ficar como
estou. Quietinho.
Lembro de minha primeira aula de física na Engenharia da
Ufrgs. Já lá se vão mais de 30 anos. O professor nos disse: “a partir de agora
esqueçam tudo o que aprenderam sobre ciência em jornais, revistas e televisão”.
Aquilo me calou fundo.
Ao mesmo tempo eu amo a natureza. Eu escalo montanhas,
esquio, nado, caminho sempre junto a natureza. Ja criei cachorro, passarinho,
hamster, pombas, tartarugas, peixes e por aí vai... ou seja, adoro a natureza.
Não de uma maneira fanática. Por exemplo, eu amo roupas de pele natural. E quem
já sentiu um casaco de pele de foca sabe o que isto significa. Nada se compara
a maciez de uma foca. Também acho o pessoal do PETA um porre. São uns chatos,
xaropes.
A natureza foi dada ao homem para usufruir dela. Mas não
podemos fazer como ganhadores da loteria que gastam tudo que ganharam em um ano
e morrem na miséria. Que é exatamente o que muitos querem fazer hoje.
Eu lembro que ao cursar o primeiro ano do colegial no
Rosário, fiquei escandalizado ao saber que iríamos estudar ecologia nas aulas
de biologia. “Como assim ecologia?”. Ecologia era coisa de esquerdinhas,
comunas, hippies. Não cabia em um colégio de segundo grau ensinar isto aos
alunos.
Mas felizmente aqueles ecochatos do passado fizeram o que
fizeram. Hoje não há cidade no mundo que não controle os impactos ambientais.
Hoje há uma consciência generalizada de que
é sim preciso cuidar da natureza. Hoje as pessoas caminham em parques,
cuidam da saúde, etc. Por causa daqueles chatos de antigamente.
Sempre foi assim na história da humanidade, os extremistas
nunca atingem seus objetivos (felizmente), mas nem tudo que eles falam é ruim
ou errado. E a própria sociedade se encarrega de depurar os discursos ficando
com o que é razoável e descartando o resto. Mas se não houvesse o exagero,
provavelmente nada restaria.
Enfim, juntando tudo o que disse acima, minha conclusão é
que
Ecochatos são muito chatos. A meu ver só há uma coisa mais
chata que eles: um velho chato!
ps1: falam muito dos jovens, talvez por eles terem uma visão
mais ampla das coisas do que nós mais velhos. É o que se chama de visão
sistêmica, do todo. Deveríamos agradecer a dois jovens americanos de Stanford,
Sergey Brin e Larry Page criadores do Google que mantém gratuitamente o site
que permite a publicação deste meu texto. Valeu aí gurizada;
ps2: em vez de lerem notícias na televisão ou em portais de internet,
aproveitem outro serviço maravilhoso oferecido pelo Google, um banco de dados
de artigos científicos. Para facilitar a vida segue o link
http://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&q=%22global+warming%22&btnG=Pesquisar&lr=&as_ylo=&as_vis=1
Tem 546.000 artigos sobre Aquecimento Global. Leia apenas os mil primeiros e
depois venham conversar comigo (lógico que me refiro aos céticos).
*Marko Petek é gaúcho, cientista e mora na Suíça.